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"VOCÊ PODE CHAMAR A MÉDICA PRA MIM?"

Médica Ginecologista e Obstetra, Viviane Dias Balbino Gonzaga conta que, por diversas vezes, foi confundida com profissionais de outras áreas. E não só por pacientes, mas também por colegas de profissão.

"Especialmente dentro dos hospitais já vivi inúmeras situações, como uma vez em que fui pegar o privativo e a funcionária me disse que eu deveria pegar em outro local. Assim que virei de costas, ela entregou para um outro médico, homem e branco.”

Ela conta que também já ouviu frases como 'Me passa o instrumento' ou 'Outra triagem?'. “Quando eu respondo que sou médica, as pessoas sempre disfarçam, fingem que se enganaram", diz Viviane.

Mesmo contando com todo o apoio da família, a médica explica que foram muitos os desafios enfrentados, inclusive durante a sua formação. 

“Nasci em uma família simples, mas não trabalhei no período que eu estudava e tive a oportunidade de me dedicar exclusivamente aos estudos. Porém, como negra, cursando uma faculdade na qual eu não via negros, confesso que tive dificuldade em relação à minha autoafirmação. Eu entendia isso como um desafio ainda maior e sempre me perguntava: Será que esse curso é para mim? Será que eu vou ser feliz sendo médica? Já imaginando o preconceito que eu viveria. E eu vivi; foram muitos os episódios de preconceito e exposição durante a faculdade, inclusive por parte dos professores. E, por ainda não ter letramento racial, não consegui me defender."
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Ainda de acordo com ela, sempre fez parte do imaginário da população o pré-conceito de que a Medicina é para homens, brancos. No entanto, ela espera que essa realidade esteja mudando e que campanhas educacionais como essa da Unimed-BH contribua e amplie essa reflexão. “A pessoa negra está tendo mais acesso e isso faz toda diferença. A cor da pele não é o que determina a competência do profissional. Isso não só para a carreira médica, mas para todos os profissionais. Nós somos um povo diverso e a sociedade precisa compreender e respeitar isso.”

Viviane ainda fala da importância do profissional médico como formador de opinião. 

"O médico participa da educação de uma sociedade e tem um papel muito importante para que, de fato, haja uma transformação social. É preciso construir um novo modelo de olhar, aceitar a diversidade e se reconhecer preconceituoso, racista. Somente assim, ficaremos mais atentos às nossas falas, às nossas atitudes e ao que chamam de brincadeirinhas. Somos todos parte de uma sociedade que precisa se transformar.”
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"O racismo nunca me impediu de fazer nada e não me fez desistir. Ao longo da minha vida sofri muito preconceito, mas eu sabia que eu era capaz. E apesar do racismo ainda existir, eu não vou deixar de fazer as minhas escolhas, não vou deixar de fazer as minhas escolhas.”
Viviane Dias Balbino Gonzaga.
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Infelizmente, para Érika, o preconceito vivido no início da faculdade de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ainda pode ser observado atualmente.

“Não foi fácil entrar numa universidade pública e fazer um curso tão elitizado. O ciclo básico da medicina foi um grande desafio. Mas, enquanto profissional, nunca senti preconceito em relação a minha parte técnica. O que vejo, e não é pouco na área médica, são piadinhas machistas, desrespeitosas. Ou manifestações racistas, homofóbicas, capacitistas, muitas vezes, veladas”.

Ela reforça, o papel do médico como formador de opinião.

“O respeito à pessoa humana deve ser um só. Respeito é respeito. E somente com informação, com a comunicação para o colega médico, para o paciente, é que podemos mudar essa realidade”.

"Somos todos absolutamente iguais. O que nos difere são as oportunidades da vida e os valores que cada um recebe. O que não fere a integralidade do outro, diz respeito somente a nós mesmos".

Raça, cor e desigualdade

Segundo o IBGE, o Brasil tem mais de 210 milhões de habitantes, sendo 54,8% de negros. Isso significa que temos a maior população afrodescendente fora da África. No entanto, dados do Banco Mundial mostram que os afrodescendentes brasileiros têm 2,5 vezes mais probabilidade que os brancos de viver em situação de pobreza crônica.

Nas organizações brasileiras, um estudo feito pelo Instituto Ethos mostrou que os negros ocupam apenas 4,9% das cadeiras nos Conselhos de Administração das 500 empresas de maior faturamento do país. Entre os quadros executivos, eles são 4,7%. Na gerência, apenas 6,3% dos trabalhadores são negros.

No entanto, muitas pessoas ainda resistem em reconhecer as intensas desigualdades causadas pelo racismo em todos os eixos da sociedade. Mas é preciso empatia para perceber as consequências da discriminação racial no dia a dia e, assim, se tornar um agente na caminhada para superação desse cenário.

REFLITA

Quando pensamos em médicos, diretores hospitalares, gestores/lideranças da área de saúde, lideranças da classe médica, que tipo de pessoa vem nas nossas cabeças? Qual a cor dessa pessoa?

E quando pensamos em trabalhadores em funções menos valorizadas socialmente, como funcionários da higienização hospitalar, técnicos de enfermagem?

Pensar sobre essas referências é fundamental para rever preconceitos que se baseiam no racismo estrutural e histórico e combater as desigualdades e discriminações.

ATENÇÃO 

O respeito é um dos principais pilares da diversidade. Para que ela seja garantida, evite tratar manifestações étnico-raciais como algo exótico ou curioso.

EVITE 

• Fazer comentários negativos, preconceituosos e/ou piada de cunho-étnico-racial, algo comum no cotidiano com relação a afro-brasileiros, indígenas, árabes e pessoas com ascendência de países do sudeste asiático.

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Canais de acolhimento

Qualquer tipo de preconceito é uma infração ética grave.
Dessa forma, existem canais de acolhimento e denúncia para as diversas situações.

Quando o médico for vítima de preconceito e discriminação procure acolhimento no departamento jurídico do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais pelo telefone 99302-0106.

Quando o médico for o agente da situação de preconceito ou discriminação, o acolhimento deve ser realizado no Conselho Regional de Medicina. (www.crmmg.org.br)

Se você for médico cooperado da Unimed-BH, acione também o Canal Confidencial. (canalconfidencial.com.br/unimedbh)