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Em memória ao médico cooperado da Unimed-BH, Luiz Roberto, que gentilmente aceitou o convite para participar dessa campanha. 

"A MINHA DEFICIÊNCIA NÃO ME LIMITA"

Neurocirurgião por 35 anos, professor da PUC Minas por mais de 40 anos, Luiz Roberto fala das adversidades da vida e como se tornou médico, mesmo concluindo o ensino infantil tardiamente. Os obstáculos começaram logo aos cinco meses quando ele enfrentou a poliomielite. Filho de família humilde, mãe solo, ficou sem sobrenome ao não ser reconhecido pelo pai.

“A minha infância foi marcada por grandes dificuldades motoras devido as sequelas da poliomielite. Tenho uma atrofia muscular importante, com fraqueza na perna e no braço direito. A minha família era muito pobre e eu morava muito distante da escola. Com isso, não conseguia frequentar as aulas regularmente e acabei concluindo o ensino infantil apenas aos 14 anos de idade. Nessa época fui morar com os meus tios, que considero como pais, e a minha vida tomou um rumo mais tranquilo."

Além do contexto familiar, o preconceito também acabou impedindo-o de viver uma infância comum a qualquer garoto da sua idade.

“Quando criança me chamavam de aleijadinho e isso me deixava com muita raiva. Eu não entendia que isso era preconceito, mas com essas falas fui criando dentro de mim um preconceito pessoal, o que acabou me impedindo de fazer coisas básicas como vestir short para não expor a perna, usar sempre camisas de manga longa para não mostrar o braço atrofiado. E, mais tarde, eu percebi que não precisava ter passado por muitas situações que eu próprio me impus por insegurança, medo."

Somente após vencer a barreira pessoal é que Luiz Roberto passou a encarar os julgamentos com mais coragem.

“Na vida adulta, eu sempre tive um bom relacionamento com os meus colegas, mas percebia os olhares quando achavam que eu não tinha capacidade para fazer determinadas coisas devido à minha condição física."
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NEUROCIRURGIÃO

Foi ainda na infância, com as muitas internações, que Luiz Roberto descobriu a paixão pela Medicina.

“Quem convivia comigo falava que eu seria advogado ou jornalista pois sempre fui muito de falar e escrever. Mas fui direcionado para a Medicina quando me internei no Hospital da Baleia para fazer o tratamento e acabei sendo influenciado por toda a equipe do Dr. José Henrique da Mata Machado, especialmente pelo Dr.Arlindo Pardini que à época era residente dele."

Depois de formado, Luiz Roberto optou pela neurocirurgia, especialidade considerada complexa do ponto de vista físico, já que grande parte das cirurgias são muito longas e os profissionais atuam na maior parte do tempo em pé.

Mas, para a surpresa de alguns colegas, na residência médica, Luiz Roberto atuou como monitor dos professores Cristiano Rocha e Marco Antônio Rocha e, em seguida, foi convidado a compor a equipe do Marco Antônio, colega que ele considera como irmão e que trabalhou junto por quase 40 anos.

“Um colega nosso teria dito: será que não vale a pena o Luiz tirar isso da cabeça? Será que ele vai aguentar? E eu trabalhei como neurocirurgião durante 35 anos exatos, operei muita gente e, junto da minha equipe, participei de mais de mil cirurgias."

Apesar de tratar as adversidades vividas com leveza, Luiz Roberto lamenta que ainda hoje pessoas com necessidades especiais sejam vítimas de preconceito e tenham a capacidade profissional questionada devido às limitações físicas.

“Eu nunca vivi situações no qual algum paciente não quisesse ser operado por mim. Isso, porque, a maioria das vezes o preconceito que sofri ao longo da minha vida profissional foi muito velado, algo como se fosse uma ajuda, um conselho. Mas na sala de aula tive alunos com necessidades especiais e ouvia muitos questionamentos de como eles dariam conta de exercer as profissões escolhidas."
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"O médico é um formador de opinião e com importância fundamental nessa luta contra o preconceito. Em especial, contra o capacitismo pode orientar familiares e as pessoas, de um modo geral, como devem se comportar diante do indivíduo com necessidade especial, respeitando e entendendo que não há limitações quando se quer. Podemos ser e fazer o que quisermos.”
Luiz Roberto.
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Infelizmente, para Érika, o preconceito vivido no início da faculdade de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ainda pode ser observado atualmente.

“Não foi fácil entrar numa universidade pública e fazer um curso tão elitizado. O ciclo básico da medicina foi um grande desafio. Mas, enquanto profissional, nunca senti preconceito em relação a minha parte técnica. O que vejo, e não é pouco na área médica, são piadinhas machistas, desrespeitosas. Ou manifestações racistas, homofóbicas, capacitistas, muitas vezes, veladas”.

Ela reforça, o papel do médico como formador de opinião.

“O respeito à pessoa humana deve ser um só. Respeito é respeito. E somente com informação, com a comunicação para o colega médico, para o paciente, é que podemos mudar essa realidade”.

"Somos todos absolutamente iguais. O que nos difere são as oportunidades da vida e os valores que cada um recebe. O que não fere a integralidade do outro, diz respeito somente a nós mesmos".

SAIBA MAIS

O termopessoa com deficiência” é mencionado na Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, promulgada no Brasil por meio do decreto 6.949/2009, e é considerado o mais adequado para se referir às pessoas que possuem deficiências física, sensorial, intelectual ou múltipla.

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A Lei Federal 8.213, mais conhecida como Lei de Cotas, foi criada em julho de 1991 e, entre outras providências, reserva entre 2% e 5% das vagas em empresas com mais de 100 funcionários para contratação de pessoas com deficiência.

Entretanto, mesmo que a Lei continue tendo um papel importante, a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho ainda enfrenta muitos desafios. A verdade é que existe bastante desconhecimento em relação à legislação e, em decorrência disto, poucas empresas realmente seguem essa lei da forma correta.

Muitos empregadores acreditam é que não há pessoas com deficiência disponíveis no mercado de trabalho. Na realidade, de acordo com o CENSO de 2010, existem mais de 45 milhões de brasileiros com pelo menos um tipo de deficiência no país, o que representa 23,9% da população brasileira. Considerando esse púbico, temos ainda mais de 29 milhões de PCDs com idade entre 15 e 59 anos, ou seja, capazes de trabalhar.

Entretanto, do total de pessoas com deficiência em idade ativa, 40% não estão ocupadas. É preciso investir em práticas de recrutamento e desenvolvimento direcionadas para talentos com deficiência.

Você já ouviu falar em capacitismo?

Capacitismo é o termo utilizado para nomear todo tipo de discriminação cometida contra pessoas com deficiência (PcDs), e neurodivergentes (NDs), que são pessoas que possuem autismo, bipolaridade, demência, entre outras condições ligadas ao cérebro. O capacitismo gera uma associação desses grupos de pessoas a características negativas. Resumidamente é um conjunto de atitudes preconceituosas que segregam e subestimam a capacidade das pessoas com deficiências. 

 

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Você sabe o que significa a sigla LGBTQIA+?

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Em memória ao médico cooperado da Unimed-BH, Luiz Roberto, que gentilmente aceitou o convite para participar dessa campanha. 

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Canais de acolhimento

Qualquer tipo de preconceito é uma infração ética grave.
Dessa forma, existem canais de acolhimento e denúncia para as diversas situações.

Quando o médico for vítima de preconceito e discriminação procure acolhimento no departamento jurídico do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais pelo telefone 99302-0106.

Quando o médico for o agente da situação de preconceito ou discriminação, o acolhimento deve ser realizado no Conselho Regional de Medicina. (www.crmmg.org.br)

Se você for médico cooperado da Unimed-BH, acione também o Canal Confidencial. (canalconfidencial.com.br/unimedbh)