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Unimed-BH-On-line nº650

Reflexões sobre o fim inspiram conversa sobre humanização

Foi falando sobre a finitude da vida que a filósofa e psicanalista Viviane Mosé encerrou a programação do palco principal do 20º Encontro de Cooperados. Mesclando análises da sociedade atual e reflexões sobre experiências pessoais, Viviane destacou que estamos vivendo a emergência de um novo humano e que a formação médica deve se debruçar cada vez mais sobre isso.

A filósofa pontuou que a civilização foi se constituindo em uma bolha, evitando olhar para grandes questões como a dor, a velhice e o fim da vida, renunciando à angústia natural do viver. “Nós somos um milagre, uma raridade. A dor e a alegria são tão importantes quanto. Existe uma grandeza na vida que nos foi tirada, que é lidar com a provisoriedade”.

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No meio disso, está a Medicina, que em sua essência precisa lidar com todas as fragilidades humanas, desde uma família que chega ao hospital com uma criança febril até o diagnóstico terminal de um paciente. O médico encara a finitude diariamente, em todas as especialidades.

Para lidar com aquilo que Viviane chama de “a única verdade da vida” — a morte —, ela considera que a filosofia e arte são essenciais. “A gente tem que aprender a amar a finitude, porque não há outra possibilidade. Não ver, fingir que ela não existe, não é possível. Não há placa de cimento que abafe isso. Daí nasce a arte, a dança, a poesia. A arte é a única coisa capaz de fazer o humano lidar com o sofrimento. Ela é aquilo que pode nos compensar e nos fortalecer. A vida é um fenômeno raro, incrível e belíssimo, que a gente pode lidar”, destacou.

Nesse sentido, coloca-se a importância de fortalecer o estudo de humanidades ainda nos cursos de Medicina, como arcabouço para uma prática médica preparada, além da técnica, para o enfrentamento das dores humanas. “Os médicos merecem carinho, arte, filosofia, amor. E é esse trabalho que deve ser feito com vocês, desde as universidades, trazer para a Medicina conhecimento filosófico, artístico, poético. Vocês merecem esse estofo para lidar com esses imensos desafios que enfrentam diariamente”, reforçou.

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Mencionando a tecnologia e as recentes preocupações com a inteligência artificial, a filósofa ressaltou que há um processo de evolução em curso, no entanto, há características humanas que nenhuma máquina é capaz de reproduzir. 

“Tem uma coisa do trabalho médico que ninguém vai substituir: o olhar do médico, a sensibilidade. O olhar nos olhos da pessoa que você está atendendo. Porque a Medicina lida com a fragilidade, com o sofrimento, com a dor. Não é possível um robô fazer o trabalho de um médico, porque a nossa inteligência, diferente da artificial, ela é movida pelo afeto. É ele que nos dá brilhantismo e nos faz enxergar o que ninguém está enxergando”.

Viviane Mosé concluiu sua apresentação declamando o poema "Ode à vida", que integra o livro Calor, de sua própria autoria. Um final cheio de emoção e poesia para inspirar todos os cooperados.

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