Este ano, temos um motivo especial para prestigiar a 50ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Belo Horizonte. Em celebração aos 40 anos de carreira do renomado dramaturgo e diretor Jair Raso, que também é médico cooperado da Neurocirurgia, cinco espetáculos estão em cartaz na “Mostra Jair Raso”.
Com temas diversos, as produções marcam a trajetória do médico nas Artes Cênicas e representam a importância do autor no cenário teatral nacional. "É uma grande satisfação poder reunir cinco produções de diferentes momentos da minha carreira nessa campanha. Cada um dos espetáculos, com seu estilo e linguagem próprios, traz um pedaço do meu olhar sobre o teatro e, mais importante, sobre o ser humano", destaca Jair Raso.
Confira quais são os espetáculos e programe-se para curtir o trabalho do colega:
Para conhecer melhor cada obra, clique aqui e acesse a matéria sobre a “Mostra Jair Raso” publicada no Hoje em Dia.
Unimed-BH: Como a paixão pelas artes surgiu em sua vida?
Jair Raso: Sempre quis fazer Medicina. Digo que o teatro entrou na minha vida por amor: uma paquera de colégio cismou que eu era galã e me convidou aos palcos, de onde nunca mais saí. Comecei a fazer teatro amador em 1976, um ano antes de entrar para a faculdade de Medicina. Escrevi e montei minha primeira peça em 1977 e conciliei atividades nos palcos, que eram eventuais, com o curso de Medicina. Nesse período, morava em Barbacena, o que facilitava muito minha vida em termos de deslocamento entre as atividades.
Em 1982, já em Belo Horizonte, fiz um curso de teatro, o Oficina de Teatro, e entrei para residência em neurocirurgia. No terceiro ano de residência, consegui voltar a escrever e dirigir teatro. Em 1985, comprovando minha atuação como autor, diretor e ator de teatro nesses nove anos, tornei-me profissional.
Unimed-BH: Em sua opinião, qual é a ligação entre as duas áreas - Artes Cênicas e Medicina? De que forma elas se relacionam?
Jair Raso: O que mais me atrai nas duas profissões são as diferenças entre elas. Trabalho com casos complexos, que exigem muita atenção, treinamento e concentração. Sair do bloco cirúrgico para os palcos descansa o cérebro, que passa a resolver problemas completamente distintos, tais como memorização de textos e marcações, iluminação, etc. Mas há sim muita coisa em comum.
Tanto o teatro como a medicina cultuam as tradições e são ávidos por novidades. No meu caso, o interesse por neurociências me levou a utilizar conceitos dessa área na preparação dos atores, explorando conhecimentos das funções dos hemisférios cerebrais, mecanismos neurais da memória e atenção e desenvolvendo exercícios para estimular e facilitar o trabalho dos atores.
Medicina é a mais humana das profissões e o assunto do teatro é esse: o ser humano, seus conflitos, seus dramas, suas alegrias.
Unimed-BH: Você considera que as Artes Cênicas contribuíram para a sua formação em Medicina? Consegue perceber alguma influência para a formação do médico que você se tornou?
Jair Raso: O teatro nos ensina a busca pelo subtexto, a expressão não verbal. Também ensina as deixas: há um momento certo para falar, o momento de ouvir e calar. Todo médico representa o papel daquele que sabe. O professor Luiz Otávio Savassi Rocha, inspirado por outro mestre, Dr. João Gabriel Fonseca, costuma dizer que “a medicina é a arte de administrar a incerteza, sem demonstrar insegurança”. Isso, para mim, é arte cênica pura.
Além disso, o teatro me estimulou a estudar filosofia, o que influencia minha maneira de escrever e de exercer a medicina. O teatro e a medicina na Grécia antiga andavam de mãos dadas e foram alicerces de nossa civilização. Ao levar a neurociência para a sala de ensaios, sinto que estou na Grécia, promovendo o reencontro do teatro e da medicina.
Quer saber mais sobre a trajetória do colega nas Artes Cênicas? Clique aqui e confira o artigo “A neurociência é a minha Grécia", escrito por Jair Raso e publicado no jornal O Tempo.