Conexão entre literatura e medicina: uma narrativa sobre o cuidado

 A palestra de Carla Madeira no 20º Encontro de Cooperados propôs uma reflexão profunda sobre o cuidado, a escuta e a integralidade do ser humano, conectando literatura e medicina como caminhos para lidar com os desafios emocionais da prática médica. 

“Há um certo milagre nos encontros”. Foi assim que a escritora Carla Madeira iniciou e encerrou sua palestra no 20º Encontro de Cooperados da Unimed-BH. Ela trouxe uma perspectiva sensível e profunda sobre o cuidado, conectando literatura, escrita e medicina.

A proposta do evento, que convidou os médicos cooperados a refletirem sobre o próprio bem-estar físico e mental, encontrou na fala da autora uma potente ferramenta de inspiração. Não faltaram emoção e aplausos ao longo de suas falas sensíveis e poéticas. 

Mercês Fróes, diretora de Relacionamento com o Cooperado e Sustentabilidade, deu início ao evento destacando a presença da celebrada escritora para refletir sobre os vínculos entre Literatura e Medicina. "Pensamos cada detalhe para oferecer não só conhecimento, mas também acolhimento e inspiração. A sensibilidade de Carla, ao abrir nossa programação aqui no Espaço Alma, reforça como a literatura pode ser um caminho de autoconhecimento e conexão com nós mesmos."

Carla abordou como a arte, especialmente a literatura, pode ser uma aliada na preservação da saúde mental dos profissionais da saúde. A partir de sua experiência pessoal com a escrita, ela propôs um olhar mais atento às emoções, à produção de sentido e aos vínculos humanos.

“Nada chega à mente e à razão sem antes passar pelos nossos sentidos. Onde existe corpo, existe emoção. Portanto, é urgente encontrar reconexão com o sentimento e com a produção de cuidado por meio de uma compreensão ampliada do que é o ser humano. É bonito e poderoso entender que a linguagem artística é um mecanismo de preservação do nosso corpo, da nossa saúde e do nosso equilíbrio.

Para provocar reflexões sobre o poder transformador da arte e da escrita, Carla compartilhou um pouco do seu processo de tornar-se autora, revelando que o impulso criativo pode surgir em qualquer momento da vida, e que nunca é tarde para começar. Sua experiência pessoal foi um convite à coragem de escrever, de criar e de se reconectar com o que dá sentido à existência.

“A coisa mais incrível que a literatura fez na minha vida não tem a ver com o lugar para onde ela me levou, mas com o lugar de onde ela me tirou. Comecei a escrever aos 50 anos, e foi essa paixão que me fez encontrar potência e sair do cansaço da rotina de uma grande agência publicitária. Quando escrevo, experimento uma pequena valsa entre o sentir e o pensar. Saio do desamparo. Produzo sentido e saúde.”

Durante sua apresentação, a autora mais lida no Brasil em 2023 e 2024 trouxe à tona reflexões profundas sobre a escuta sensível e a empatia, traçando paralelos entre o ofício do escritor e o do médico. Para ela, ambos lidam com histórias, com complexidades humanas e com o desafio de compreender o outro em sua totalidade. Se, como ela afirma, “há um certo milagre nos encontros”, então cada consulta médica é também uma oportunidade de fazer nascer esse milagre na relação entre médico e paciente.

“Escrever é, antes de tudo, escutar. E estou certa de que o ato de cuidar também passa pelo mesmo caminho. Não basta só compreender o corpo para o real cuidado. Em qualquer especialidade, é preciso ampliar os sentidos e ouvir também as emoções. Se sou um oftalmologista e cuido do olho, é preciso entender também do que o paciente está vendo. Está tudo integrado.”

Por fim, Carla Madeira celebrou junto aos participantes do Concurso Cultural de Literatura, promovido pelo Instituto Unimed-BH em parceria com a Academia Mineira de Letras, o lançamento da coletânea que reúne os 20 textos selecionados. A escritora destacou a importância de iniciativas que incentivam a expressão artística e o cuidado por meio da escrita, valorizando o gesto de coragem dos médicos que se colocaram nesse caminho.

“É incrível esse movimento da Unimed-BH de estimular a escrita entre seus médicos cooperados. Como eu disse, o ato de escrever encaminha muitas coisas do inconsciente e tira a gente de lugares exaustivos. Quero dar parabéns a quem se colocou nesse caminho de coragem de produzir arte, cuidando de si e cuidando do outro com o mesmo amor e empenho.”

No encerramento da palestra, os autores dos textos selecionados no concurso foram convidados ao palco, onde receberam seus certificados e exemplares da coletânea literária. Em seguida, posicionaram-se ao lado do auditório para a sessão de autógrafos, celebrando juntos o reconhecimento e a valorização da escrita como forma de cuidado e expressão.

Os selecionados do Concurso de Literatura: Ana Mendonça (Pediatria), Andrea Fernandes (Acupuntura), Camila Carvalho (Ginecologia e Obstetrícia), Cleuza Teixeira (Pediatria), Elizabeth Frota (Neurologia), Eulalia Poblet (Otorrinolaringologia), Felipe Faria (Clínica Médica), Gustavo Gualberto (Dermatologia), Ivan Large (Oftalmologia), Jair Raso (Neurocirurgia), José Macedo (Ginecologia e Obstetrícia), José Oliveira (Clínica Médica), Lucia Fenelon (Cardiologia), Luis Teixeira (Clínica Médica), Marcelo Garcia (Radiologia e Diagnóstico por Imagem), Marcelo Roitberg (Oftalmologia), Margareth Costa (Homeopatia), Marlise Alvarenga (Geriatria), Pedro Filho (Oftalmologia) e Rita Menezes (Pediatria).

Sobre a palestrante

Carla Madeira é uma das principais vozes da literatura contemporânea brasileira. Escritora e publicitária mineira, é sócia e diretora de criação da agência Lápis Raro, em Belo Horizonte. Sua trajetória literária começou de forma independente, com a publicação de Tudo é Rio (Quixote+Do; relançado em 2021 pela Editora Record) em 2014, obra que se tornou um fenômeno de crítica e público, conquistando prêmios no Brasil e em Portugal, além de traduções para outros idiomas. Publicou ainda A Natureza da Mordida (Editora Record), em 2018, e Véspera (Editora Record), em 2021.