Abrindo a programação da tarde do Encontro de Cooperados, o diretor-presidente da Unimed-BH,...
Unimed-BH-On-line nº650
É preciso repensar o cuidado
Maria Homem destacou a importância dos médicos assumirem um “lugar humano” diante dos outros em um convite à escuta sensível, ao autocuidado e à reflexão sobre os desafios do comportamento humano na prática médica.
Em um mundo acelerado, líquido e em constante transformação, como manter o eixo e oferecer cuidado genuíno? Essa foi a provocação central da palestra da psicanalista Maria Homem durante o 20º Encontro de Cooperados da Unimed-BH. Com o tema “O que o comportamento humano trará de novos desafios?”, a pesquisadora propôs uma pausa para que os médicos se reconectem com sua própria saúde — corpo, mente e alma — e com o sentido profundo de sua prática.

“Já parou para se perceber?”, questionou Maria convidando os presentes a refletirem sobre como ocupam o lugar de cuidar e de se cuidarem. Em sua fala, ela destacou que vivemos uma busca por sentido em meio a um mundo em crise de paradigmas, onde tudo — ética, relações, autoridade — está sendo questionado. “Estamos assustados com a realidade em que vivemos. Os sintomas físicos são também sintomas psicossociais”, afirmou.

A psicanalista abordou o impacto da sociedade líquida, marcada pelo movimento constante, pela multiplicidade de escolhas e pela dissolução de certezas. “Vivemos em um supermercado de opções sobre o que somos, mas adoecemos diante de tantos modelos ideais que nos são apresentados. Precisamos ter coragem para viver o desvelamento do que foi construído como ideal”, disse. Para ela, a liberdade de sermos seres humanos falíveis é um passo essencial para o cuidado verdadeiro.
“Sem fantasias, precisamos nos assumir e entender que, em nossa individualidade, com nossas falhas e imperfeições, somos interessantes”, destacou. Segundo a pesquisadora, essa aceitação da vulnerabilidade humana é o ponto de partida para uma atuação ética e transformadora na Medicina.

Ao discutir os desafios da escuta clínica, Maria reforçou que o médico também é humano, também sofre, e precisa abrir brechas para ser cuidado. “Como nos colocamos em lugar humano diante do outro? A escuta é um ato ético, e escutar o outro é também escutar a si mesmo”, afirmou. Em sua visão, a prática médica do futuro exigirá mais do que atualização científica e tecnológica — exigirá presença, vínculo e sensibilidade diante das transformações culturais e comportamentais.